Há pouco mais de um mês no comando do BNDES, Paulo Rabello de Castro tem mantido intensa agenda de reuniões em Brasília. Em meio à grave crise política que atinge o governo Michel Temer, ele praticamente em todas as semanas tem despachado pelo menos um dia na capital federal. Boa parte das agendas é com parlamentares, além de reuniões com o governo e o setor privado.

Com uma meta de elevar em cerca de R$ 20 bilhões o volume de crédito do banco de fomento nos próximos 12 meses, o que empurraria o atual estoque para algo em tomo de R$ 105 bilhões até meados do ano que vem, Rabello de Castro não esconde que está buscando imprimir um novo estilo de relacionamento da instituição e demonstrar mais “proatividade” para quem demanda o banco.

“É uma agenda mais proativa. E também mais econômica, porque em vez de meio Brasil ir fazer um beija mão na avenida Chile é mais prático eu vir em certos dias da semana atender governador, prefeito e em especial deputados e senadores que às vezes trazem questões que são econômicas”, disse ao Valor logo após uma reunião em Brasília na terça-feira. “É uma estratégia sim. Isso já faz parte de uma proatividade que a gente quer passar. O governo não costuma ser tipificado como omisso, inerte, moroso? Nós estamos tentando implantar um ritmo diferenciado.”

Rabello de Castro substituiu Maria Silvia Bastos Marques no fim de maio. A então presidente da instituição vinha sendo bastante criticada pelo setor produtivo, reclamações inclusive levadas ao governo, por supostamente travar a liberação de crédito, o que ela e o banco negavam de forma reiterada.

Na troca de comando, o alto escalão do governo justificava a saída de Maria Silvia como decorrente de uma perda de comando no banco, devido à insatisfação dos funcionários com a suposta pouca defesa da instituição e de seu pessoal na questão das acusações em ‘ torno de empréstimos polêmicos.

Entre terça e quarta-feira, Rabello de Castro se encontrou com 17 parlamentares, além de participar de reuniões com entidades do setor produtivo, como a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),

Além de avaliações de conjuntura, em geral com tom positivo sobre a trajetória da economia, relatos de alguns participantes dão conta de que Rabello de Castro tem demonstrado disposição de acelerar a concessão de crédito, em especial para empresas de pequeno e médio porte, discurso que tem agradado aos interlocutores. “Ele disse que tem recurso que pode aplicar e quer aplicar”, conta o senador Wellington Fagundes (PRMT), que também informou que o presidente do BNDES demonstra preocupação com a situação da JBS e os riscos para a empresa, que também foi tratado com a CNA.

O cenário para a ampliação do crédito apresentado pelo presidente do BNDES a alguns parlamentares inclui uma percepção de que a forte queda da inflação tem aberto um espaço para uma redução significativa dos juros básicos, que tende também a fortalecer a demanda por crédito na economia. Segundo relatos, ele teria mencionado que, dada a velocidade de recuo da inflação “que cai como um balão apagado”, o juro real recentemente até subiu e sua redução seria variável importante para a retomada da economia.

Outro tema tratado com parlamentares foi a CPI mista do BNDES, instalada no Congresso. Rabello de Castro tem reforçado o discurso de defesa do corpo técnico do banco e deixou claro que quer falar pela instituição na CPI. Tem informado aos parlamentares que prepara um “livro verde” com análise sobre as criticadas operações do banco e teria elogiado as operações no exterior pela baixa inadimplência.

O senador Armando Monteiro (PTB-PE), um dos que se reuniu com Rabello de Castro nesta semana, afirmou que o executivo tem feito “uma defesa forte da instituição” e de seu papel no desenvolvimento econômico.

O deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), que organizou reunião com representantes da Abimaq, afirmou que o presidente do BNDES demonstra interesse em reduzir os problemas de burocracia na liberação de crédito. “Percebe-se claramente uma mudança de postura da instituição, na forma do atendimento. Ele demonstra não querer que nada fique parado na burocracia”, disse o deputado.

César Prata, diretor da Abimaq que participou do encontro, foi na mesma direção. “Diría que mudou da água para o vinho. A postura é diferente”, afirmou, explicando que havia maior demora para atender pedidos de reuniões com os comandos anteriores do banco.

Ele conta que o setor demandou a retomada do índice de 80% do valor do bem para o financiamento de aquisições de máquinas e equipamentos e que Rabello de Castro sinalizou favoravelmente, embora tenha deixado claro que iria estudar a melhor maneira de fazer essa mudança. Atualmente, o BNDES financia 60% do valor das máquinas compradas pelas empresas.

Rabello de Castro: “Isso faz parte de uma proatividade que a gente quer passar”

Fabio Graner – De Brasília
FONTE: VALOR ECONOMICO