O reconhecimento do status de zona livre de aftosa sem vacinação para o Rio Grande do Sul me faz viajar no tempo, precisamente ao ano 2001, quando eu era assessor do ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, e a Farsul era comandada pelo saudoso Carlos Sperotto. Um triste capítulo da história da nossa agropecuária que deve ser enterrado juntamente com os animais sacrificados, rebanhos inteiros que custaram o sustento de muitas famílias. Nosso Estado era governado pelo PT, uma gestão desastrosa e sem diálogo que apostava tudo no “quanto pior melhor”. Aliás, graças a homens como Pratini e Sperotto que conseguimos enfrentar a crise sanitária e impedir que o quadro se agravasse mais ainda. Foram necessários 20 anos para virar definitivamente essa página e escrever um novo roteiro, de muito trabalho e superação. Menos de dois anos após o episódio de Joia, começava a minha trajetória política como deputado estadual. Logo de início encarei o desafio de presidir a Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa. Ao longo de dois mandatos procurei trabalhar os principais temas do agro, entre eles a questão da reorganização da cadeia produtiva da carne. Fizemos a CPI da Carne e apontamos para a necessidade de investimentos em ações de sanidade vegetal e animal. Depois de ter participado de encontros em Caracas e Cartagena, trouxe para o Rio Grande do Sul o debate da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa). Criada em 1972, a Cosalfa tem como objetivo avaliar o andamento dos programas nacionais de controle e erradicação da febre aftosa na América do Sul. Logo na sequência, iniciei as articulações políticas do projeto que permitiu a criação do Fundo Estadual de Sanidade Animal (Fundesa), um novo sistema de controle de inspeção sanitária e industrial de produtos de origem animal. Gerenciado pelo governo do Estado e entidades do setor produtivo, o Fundesa funciona como uma parceria público-privada, cujos recursos são gerenciados pela própria cadeia produtiva em ações preventivas e de combate a doenças infectocontagiosas. O Fundesa permitiu essa reorganização sanitária e a construção de uma imagem sólida da qualidade dos nossos produtos. São essas duas décadas de trabalho que deverão ser lembradas quando as principais autoridades em saúde animal do planeta se reunirem em Paris, no dia 27 de maio, para chancelar o Rio Grande do Sul como zona livre de aftosa sem vacinação. Uma conquista que exigirá de todos nós muito mais vigilância em todos os processos. Por isso que agora trabalho para aprovar um Fundesa nacional, para que tenhamos ferramentas para enfrentar os temas mundiais que envolvem a sanidade dos nossos produtos, que hoje representam as principais causas dos embargos comerciais entre os países.