Aeronautas fecham acordo com empresas e descartam greve
Categoria aceitou reposição de 5,6% e obteve avanços nas cláusulas sociais
O Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) aceitou nesta quinta-feira (19) a proposta das companhias aéreas e descartou entrar em greve. A paralisação de pilotos, copilotos e comissários de voo estava prevista para começar nesta sexta-feira (20), quando os aeroportos devem receber um grande volume de passageiros em virtude das festas de final de ano. De acordo com o vice-presidente do SNA, Adriano Castanho, a reposição salarial ficou abaixo da expectativa da categoria. “Tivemos um ganho real de apenas 0,2% mas tivemos avanços nas cláusulas sociais, que impactam em nossa qualidade de vida”, destacou o dirigente.
Entre os pontos acatados pelas empresas, destaque para o item que amplia o direito do passe-livre. A partir de agora, os trabalhadores poderão voltar para casa em qualquer aeronave de qualquer companhia, direito que ficava restrito apenas aos aviões da empresa na qual o aeronauta trabalha. De acordo com dados do SNA, 60% dos trabalhadores residem foram da base da companhia e precisam se valer deste benefício para voltar para suas casas. Além disso, a categoria obteve ganhos em diárias de alimentação e no aumento do número de folgas.
Por outro lado, não houve acordo no quesito produtividade. Segundo Castanho, hoje o aeronauta fica 22 dias à disposição da empresa durante o mês. A cada dia, o profissional deve cumprir uma carga de 11 horas, podendo voar no máximo 9,5 horas. “Só que as empresas usam essas 11 horas e nos fazem voar apenas duas, três horas. Nesse intervalo, você fica jogado nos aeroportos, que hoje mal têm lugar adequado para os passageiros, muito menos para uma tripulação”, criticou. Segundo Castanho, a categoria exige que as empresas promovam escalas mais racionais.
Mediação
O desfecho positivo nas negociações contou com a participação decisiva do ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco, que atuou na mediação entre empregados e patrões. Franco atendeu prontamente um pedido do presidente da Comissão de Integração Nacional da Câmara, deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), que recebeu um telefonema do ministro após fechado o acordo. “Foi uma saída excelente para o Brasil, bastante justa para os aeronautas, que precisa evoluir muito ainda na política salarial, no debate da fadiga humana. Chegou a hora do Brasil entender que o piloto não é um escravo do sistema aéreo”, destacou o parlamentar. Jerônimo defendeu ainda a mudança do calendário de negociação coletiva entre aeronautas e companhias, que acontece sempre no final de ano. Segundo o parlamentar, a tendência é que os trabalhadores sejam vistos como os vilões da história. “Isso não pode servir como uma espécie de chantagem. A opinião pública tem uma pressão no sentido de que nada paralise e, às vezes, não se lembra do que é a responsabilidade de um piloto levando uma aeronave que vale milhões e centenas de pessoas dentro dela”, ponderou.
Jerônimo ressaltou ainda que o debate sobre a fadiga humana ganhou o devido destaque durante as negociações, uma vez que a sobrecarga laboral sobre os pilotos deve ser encarada como um alerta no conjunto de registros de incidentes aéreos. De acordo com a Aeronáutica, incidente é toda ocorrência que possa afetar a segurança das operações de um avião, como colisões com aves, quase colisões com outras aeronaves, imperícia dos pilotos e panes mecânicas, eletrônicas ou hidráulicas.