Empresários recebidos em jantar na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), reclamaram de disposições incluídas pelo governo no texto da Medida Provisória 627, que dispõe sobre a tributação de empresas brasileiras no exterior, entre outros assuntos.

O jantar que contou com a participação de Jorge Gerdau Johannpeter, presidente da Gerdau S.A., e um dos principais interlocutores da presidente Dilma Rousseff e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva no meio empresarial. Também estiveram no evento Cláudio Galleazi, presidente da BRF -Brasil Foods, Gustavo Carlos Marin, presidente do Conselho de Administração do Santander, Pedro Mariani, vice-presidente da Ambev e executivos da Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Marcopolo, Ipiranga e Souza Cruz.

O deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), que convidou os empresários para o jantar, disse que ouviu reclamações expressas sobre a MP 627 dos representantes da BRF e da Ambev. O maior temor, relatou, é ter que separar da empresa brasileira uma controlada ou coligada que esteja instalada no exterior. As empresas entendem que o governo inclui na MP dispositivos que as obriga a pagar, no Brasil, um imposto que já pagaram no outro país em que têm atividades.

O jantar faz parte de uma tentativa, por parte da cúpula da Câmara dos Deputados, de criar uma agenda de encontros com empresários nos moldes do que faz a Presidência da República desde o governo Lula com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, popularmente conhecido como “conselhão”. “O governo não tem mais interlocução com o setor. O Conselhão nem está mais funcionando”, disse Goergen. Segundo ele, outros empresários que não estiveram no jantar já o procuraram para participar dos próximos. É o caso da Monsanto e da Abimaq.”É impressionante como [o encontro] deu uma sensação de poder de fala aos empresários”, disse o deputado.

No encontro de terça-feira também estiveram presentes os deputados Eduardo da Fonte (PP-PE), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PR-SP). Antonio Imbassahy (PSDB-BA) e Beto Albuquerque (PSB-RS) também foram convidados, mas não compareceram, disse Goergen.

Presidente da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia, Goergen organizou em novembro 2013 um prêmio para homenagear pessoas que contribuem com o desenvolvimento. De acordo com ele, o presidente da Câmara gostou da premiação e mostrou interesse em criar uma agenda de encontros com empresários. Agora que o primeiro encontro já foi promovido, os deputados tentarão organizar os próximos.

Goergen afirmou que espera ver institucionalizadas as conversas periódicas com representantes do setor empresarial. Mas, para ele, o ambiente da conversa não pode ser muito formal. Na residência de Henrique Alves, disse, havia diversas mesas para os convidados que se sentaram em pequenos grupos. “Eu levei um vinho gaúcho”, afirmou.

Nesse ambiente, os empresários presentes também expuseram outras queixas com relação ao governo. O clima, no entanto, não foi de “bater” na gestão federal, mas sim de tentar conhecer as críticas, disse Goergen. Uma reclamação geral, disse, é sobre a infraestrutura do país e a falta de planejamento do governo. Isso, disseram os presentes, de acordo com o relato do deputado, aumenta o custo Brasil e prejudica a competitividade das empresas nacionais.

Outra percepção do empresariado, disse o gaúcho, é que o país oferece insegurança jurídica. Motivam essa situação medidas como a MP 627 e o tratamento dado pelo governo a questões como a demarcação de terras indígenas.

Sobre os protestos de rua, os presentes disseram temer que os black blocs estejam criando uma má imagem do país no exterior. E a Copa do Mundo, disseram, pode “ofuscar o debate político” que deveria ser feito nas eleições, que é sobre infraestrutura e não sobre clima de festa ou de vitória da seleção.

Até mesmo a situação da Venezuela foi debatida com os deputados. Alguns empresários esperam ter ajuda do governo para resolver problemas em seus negócios que, segundo eles, são agravados pela crise política que vive o país.

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